“O ‘Amolê Pedaço’ é um projeto de integração social, que ajuda imigrantes, é feito por imigrantes para imigrantes”, começa por explicar Ilidiacolina Vera Cruz, presidente da Associação Mén Non – Associação das Mulheres de São Tomé e Príncipe em Portugal, a entidade responsável por este PIEAS (Projetos Inovadores e/ou Experimentais na Área Social). “Temos imigrantes de vários países, não só de São Tomé. Ajudamos no que toca a vestuário, alimentação, com cabazes de bens essenciais, no tratamento documental (visto de residência, cartão do cidadão, segurança social, finanças…), enfim, toda a burocracia que envolve um cidadão, todos os documentos que ele deve ter na carteira”, acrescenta.A Mén Non tem um gabinete de apoio que está aberto de segunda a sexta, no Centro de Recursos DLBC Lisboa, no Bairro Padre Cruz, e a equipa da Rede DLBC Lisboa foi visitá-lo, juntamente com o presidente Gonçalo Folgado. “Temos diversas atividades, além da distribuição de cabazes, temos o Bazar Solidário, que fazemos uma vez por semana, workshops de várias áreas (integração, saúde…), a distribuição de vestuário, brinquedos, livros…”, explica a líder da organização. E, uma vez que “a saúde mental é cada vez mais uma preocupação, realizamos também ateliers de arte, numa vertente mais lúdica, para descontração, porque as pessoas precisam de espairecer”.O projeto teve início em abril de 2021, e “com a pandemia foi importante suprir várias necessidades primárias”, recorda Ilidiacolina. “Mas não foi só nessa altura, a pandemia deixou sequelas e até hoje temos continuado a prestar apoio. Em termos de beneficiários, temos cerca 850/900. Só em 2023, já prestámos ajuda a umas 500 pessoas, apenas no gabinete de apoio, e o projeto ainda vai durar até dezembro!”O “Amolê Pedaço” está direcionado para a zona Norte de Lisboa, principalmente, Ameixoeira, Galinheiras e Charneca do Lumiar… mas, além destes territórios, tem “muitos utentes de outras áreas. Nós prestamos apoio, independentemente da zona de onde vêm”, faz questão de salientar.A Presidente da Mén Non, Ilidiacolina Vera Cruz (à dta), na companhia da gestora do projeto “Amolê Pedaço”, Domingas Aguiar (2ª à esq.) e de algumas utentes do Gabinete de ApoioDificuldades e balançoApesar de considerar que chegar ao público-alvo foi relativamente fácil, uma vez que a Mén Non já fazia este trabalho antes de iniciar o “Amolê Pedaço”, a presidente confessa que se deparou com uma dificuldade que condiciona “a eficiência do trabalho e põe em causa o andamento do próprio projeto”: a tesouraria. “A maior dificuldade que temos é financeira. Apesar do financiamento que recebemos, temos de fazer as atividades, reunir provas e depois fazer o pedido de reembolso das despesas. Mas os reembolsos demoram muito tempo a ser pagos e os recursos humanos afetos ao projeto acabam por ficar com os ordenados em atraso!”, lamenta. “É muito complicado suprirmos essa carência”.Pese embora este “percalço de peso”, nestes dois anos e meio de projeto, Ilidiacolina, faz “um balanço muito positivo, no que toca à execução física.” A nível de atividades nada parou… “Fazemos o nosso trabalho, temos pessoas que nos procuram no gabinete, que querem participar nos nossos workshops e ateliers. Estou bastante satisfeita, apesar de cansada por causa da parte financeira, que me deixa preocupada e pode pôr tudo em causa”, finaliza.Os imigrantes em PortugalO apoio dado pela Mén Non aos imigrantes ganha ainda particular destaque e importância se tivermos em conta que, nos últimos anos, o Índice de Envelhecimento registado em Portugal tem vindo a agravar-se de forma constante. Segundo projeções do INE, estima-se que, em 2060, em Portugal, por cada 307 idosos a residir no nosso país, teremos apenas 100 jovens. De notar que, desde o ano 2000, o número de idosos ultrapassou o de jovens. A entrada de imigrantes permite-nos reforçar os grupos etários mais novos e em idade ativa, atenuando o envelhecimento demográfico.“A população portuguesa está cada vez mais envelhecida e com uma esperança de vida mais elevada, portanto, torna-se essencial integrar força de trabalho imigrante”, explica Gonçalo Folgado, salientando “a importância de sabermos direcionar estas pessoas para o mercado e proporcionar a sua integração social e comunitária”.O presidente da Rede DLBC Lisboa considera que os imigrantes “não podem ficar reduzidos a trabalhos precários, com remunerações baixas e altos níveis de rotatividade”, como acontece recorrentemente. “Devem ter acesso a empregos em que possam ter progressão de carreira, contratos de trabalho dignos, acesso a formação e oportunidades! É fundamental pensar neste cenário, até porque Portugal sempre foi reconhecido por saber receber.”